terça-feira, 10 de janeiro de 2017

ESC de escape

Sonhos são realidades que nós criamos que não tem começo, muitas vezes não tem final e que, depois que acordamos, se vão para sempre. Não fica nada. Nem um resquício se quer. Não há imagens, não há palavras, não há cores. Vagas lembranças do que pode ter acontecido. Mas tudo se vai.
Sonhos são como textos perdidos por causa da era digital. Antes tínhamos que escrever a lápis para que pudéssemos apagar caso alguma palavra fosse escrita errada, alguma frase tivesse que ser modificada, algum risco aparecesse sem querer por falta de habilidade com o instrumento de grafite, e por aí vai. Mas nunca as borrachas tiveram o mesmo poder do delete ou do amigo inconveniente dele, o backspace. Nunca os textos foram tão oprimidos com o poder de um simples toque. Assim são os sonhos. “Puft”, e desaparecem.
Mas quão maravilhosos são os sonhos, isso não podemos discordar. Afinal, não tem ninguém que te conhece melhor do que você mesmo. Então, quando se tratam de bons sonhos, não queremos acordar nunca. Nossa cama é nosso SPA e nossa alma é lavada por simples projeções de nossa mente.

É por isso que eu não quero acordar nunca. Lá eu tenho amor, lá eu tenho sexo, lá eu tenho aventuras inimagináveis, lá eu sou quem eu quero ser. Até pode ser que às vezes lá seja um lugar bem ruim, mas nada que um despertador não resolva. De qualquer forma, sonhar está se tornando cada dia mais o meu hobby favorito. Talvez seja porque a realidade está sendo um parêntesis eterno em minha vida, mas isso não vem ao caso.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

O Luto do Sol

Hoje o sol não quis aparecer. Estava quente, muito quente, mas ele não deu as caras. Não era por vergonha, eu acho. Acho apenas. Afinal, quem sou eu para entender o sol?
Ele não queria olhar, acho. Ninguém queria. Ninguém queria olhar, entretanto todos queriam estar lá. Era triste... Lápides, terra, túmulos, terra, parentes, tijolos, tristeza, cimento, aceitação, fecha com terra.
O sol apareceu por semanas e nenhuma nuvem ousava colocar-se de modo a bloquear seu brilho. E como brilhava! Dias muito quentes antecederam essa triste manhã de outubro. Não que o calor tenha diminuído, pelo contrário, o sol queria mostrar que estava lá, porém não queria olhar.
Eu sei que ele queria. Enfatizo isso, porque sei. Queria e queria e queria, porque queria e queria.
Na verdade eu não sei, mas eu queria que ele quisesse. Na verdade eu já nem sei se sei usar o verbo querer. Na verdade, e a única verdade mais sensata dessas verdades, ninguém queria que estivesse acontecendo.
Mas acontece! Todos hão de cair um dia. "A gravidade é a negação da vida desde o início dos tempos", disse Millôr.
Quem quer cair? Ninguém? Alguns? Poucos? Muitos? E se o sol cair? Todos caem?
Caiu, então, mais terra sobre o grande buraco aberto no coração de todos os presentes. Soluços, cochichos, gestos e... VIVA! Um grande viva! Um viva grandioso! O viva dos vivas!
O sol bisbilhotou por entre todas as nuvens, as quais ele convocou para escondê-lo, assistiu os vivas de longe e esquentou um pouquinho mais para mostrar que ainda estava lá.
Mas então, viva o lembrou de viver. Viver o lembrou de vida. Vida o lembrou de morte. E ele voltou a se esconder. Agora ele queria chorar.
Se chorou eu não sei, meus olhos estavam encharcados de uma água que eu não sei de onde vinha. Sentia que vinha de dentro, contudo eu não sabia se era capaz disso.
Eu era sim, ou melhor, sou.
Já chorei outras vezes. Por motivos insuficientes ou não, com motivos ou não, eu chorei antes, em outros dias.
Limpe o rosto, oh filho!
Sue o nariz.
Oi sol!
Lá estava ele novamente. Já não havia mais nada para ver. Expulsou as nuvens para abraçar-nos.
Abraçou. Disse-nos o quanto amava a todos. E repousou. Continuou lá, discreto, tímido, quase ninguém o notou. Ele deve ter tentado se comunicar, confortar, dar os pêsames. Ele entende tudo, ele é o sol.
Ele sabia da grandeza da mulher que ali repousará eternamente. Ele a ajudou. Ele deu toda força que ela precisava. Ele a poupou do sofrimento. Ele sabe o que fazer. Ele tem seus planos perfeitos. Ele aquecerá o assento que escolheu para ela todos os dias, sem exceção, sem hesitar, sem titubear e com todo o seu ofuscante brilho.
Afinal, é claro que o sol vai voltar amanhã.
Mais uma vez,
Eu sei!
Eu sei, mesmo sem ter certeza disso. Eu sinto.
Para aqueles que acreditam, sentir, apenas, basta.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

A Revolta da Bola

A bola é redonda. A bola bate no muro. A bola volta. A bola é redonda.
O meu Eu que escreveu o último texto era um Eu indignado e preocupado. Esse Eu, achava que quando uma pessoa começava a preferir ficar sempre em casa, deixasse de sair, relacionar-se, curtir a vida, aproveitar o dia (Carpe Diem! diriam os árcades), a pessoa estaria muito próxima da morte. Esse maldito Eu, matou o personagem do último texto e não foi de ódio, não foi de rancor e não foi profecia! Foi um exagero. Recurso bastante utilizado na literatura e, nesse caso, para dar um ar depressivo para meu personagem. Eu repudio o suicídio, a morte virá quando ela achar necessário.
O meu novo Eu ainda acha essa pessoa, uma pessoa que espera a morte. Mas o objetivo que aquele Eu queria alcançar, não foi alcançado. As palavras que foram, voltaram completas, sem ao menos desgaste por terem sido lidas e sem marcas de guerra, visto que não foram contestadas. Foram lidas e só. De que serve palavras se serão encaradas como se fossem só palavras? Letras e mais letras... Pontos e vírgulas... Uma grande quantidade de reticências... E silêncio no final. Só silêncio. Um oco, um vazio, o vácuo. 
Foi uma bola, por mim jogada. A bola bateu no muro e ele se manteve estático, inflexível, PARADO. A bola voltou, porque a bola sempre volta. A bola já é uma volta em torno de si mesma. E a bola ainda estava redonda, como foi antes de ser jogada. Olhei para ela com desgosto e ela não olhou para mim. Nada olhou para mim. Não queria flashes, eu queria somente a compreensão e a discussão.
PA PUM PA
Agora me deu vontade de escrever, e só isso. Viu? Sem significado algum. Lê aí e perde seu tempo.

Sobre os Eu(s), devo explicações. Cada texto escrito por mim tem um significado diferente para cada Eu que escreve um texto. Pode ser que Eu descubra algo um dia e passe a pensar completamente diferente dos outros Eu(s). Os personagens dos textos costumam ser chamados de "Eu lírico". Os escritores, mesmo sendo só eu, são os "Eu escritor", que nasce num parágrafo e morre num ponto final.
Não alongarei esse texto, pois é um texto de revolta.
Terminarei-o com uma vírgula, 

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Casa

Estou cego. E não é de agora. Já faz algum tempo que estou assim. Contudo, nunca me dei conta disso. É tudo tão normal, tão natural, tão sutil, que uma simples mudança de rota no meu percurso pendular diário, agride meu irraciocínio.
Me perdoa leitor, se estou sendo muito confuso. O tempo todo eu penso o melhor para você. Qual verbo seria o mais conciso? Quais palavras posso tirar daqui para diminuir o tamanho desse textículo? Porém, assim como Brás Cubas, eu não tenho pressa. Vou pensando e mostrando para você o que eu estou pensando porque acho necessário. Se você tem pressa, a qual por muito tempo me perturbou, pare de ler, vá descansar. Essa descoberta que eu compartilho é de fundamental importância para você, entretanto se mesmo assim você estiver com muita pressa, ignore essa mensagem e vá descansar. Mas vou te dar uma chance, afinal, provavelmente há de trabalhar amanhã. Caso não, e mesmo assim você estiver com essa pressa toda, que a preguiça o sufoque até descobrir o quão cego está. Como eu estive.
Sim, estive. No pretérito perfeito, o pretérito das ações concluídas. Ó pretérito lindo, maravilhoso! Só ele para te mostrar o tempo que já se passou, as ações já totalmente encerradas e as oportunidades perdidas! Ele também, que agora te choca, demonstrando que eu não estou mais cego.
Não, não estou. A propósito, vamos começar do começo, agora não mais como Brás Cubas. Vou contar um pouco sobre minha vida.
Hora da Aurora: Acordo, levanto, tomo café, me visto e saio de casa com meus filhos e esposa. Tenho dois filhos, faço de tudo por eles, por isso me esforço e trabalho tanto. Deixo o mais velho na escola, a pequena na casa de sua avó, minha mulher no trabalho e me deixo jogado à tristeza mor do dia, o meu trabalho. Essa parte do dia eu chamo de “correria”.
Hora do almoço: Saio do departamento de stress e vou servir de motorista às madames. A mulher eu levo para almoçar na casa de sua mãe, onde a pequena espera para ser levada à escola. Engulo várias garfadas de qualquer coisa que, possivelmente, não vou me lembrar no final do dia e volto à casa de tortura.  Essa parte do dia eu também chamo de “correria”.
Hora do crepúsculo: Saio da senzala e recolho todos os moradores de minha casa. A mulher vem reclamando do trabalho, a menina tende a fazer birra quer tenha motivo ou não e o menino vem palpitando sobre minhas ideias, costumes ou vícios. Essa parte do dia eu chamaria de “correria”, mas eu prefiro chamar de “dor de cabeça”.
Hora das estrelas: Acendo os últimos cigarros do dia e abro uma lata de cerveja. Para os velhos seria a hora da cachaça, para os jovens, “happy hour”, para mim, hora da cervejinha. Ainda não acabaram os deveres. Eu faço a janta - quando eu não compro pronta - , limpo o quintal, conserto alguma coisa quebrada e tudo isso enquanto ouço minhas musiquinhas. Que saudade daquela época de moleque indomado de bailes, brincas e churrascos. Como era gostoso. Beber e dançar até alguém me mandar embora. Por que não volta?
A noite é longa, ainda dá tempo de xingar alguém da tv, criticar o mundo e seus habitantes, e aquietar o balão em qualquer encosto antes que ele exploda. Essa parte do dia eu chamo descanso, apesar de não descansar nada.
Esses são os dias úteis. Eu só descanso de verdade sábados e domingos. Neles, as horas da aurora são para trabalhar mais um pouco. As horas do almoço eu perco ainda no trabalho e o resto da tarde é dedicado ao ócio. A hora das estrelas merece a cervejinha de sempre, em casa claro. Nada me tira dessa casa, nunca. Não atrapalhe meus dias de descanso. Estou cansado e pronto. Deixe eu descansar. 
E essa parte da semana eu chamo de "não perturbe essa parte da semana".
Deve estar se perguntando, leitor, com qual intuito eu, ao invés de logo te contar um caso e resolver a narração, a estico contando meu itinerário. Não é para te deixar irritado, eu juro. Também não estou te enrolando. Estou apenas arrumando a casa para te deixar confortável. Acredito que seu dia-a-dia não seja muito diferente. As pessoas com quem eu converso costumam dizer que seus dias se resumem em correria durante o dia e um descanso merecido quando o céu escurece. Também dizem que não gostam de ser incomodadas aos finais de semana que dedicam ao descanso.
Se estiver em casa, caro leitor, e estiver confortável o assento que escolheu, sinto pena de você. Se estiver em casa, mas estiver incomodado, está no caminho certo. Se não estiver em casa, Deus te crie! Espero que esteja em um mundo melhor.
Não era para isso ser comum. Não era para ser rotina. Mas eu deixei que acontecesse e agora fiquei preso nesse vai e vem diário. E não me tire dessa rotina, porque o stress toma conta de mim e o inferno se mistura com a terra e o espírito de Deus foge de mim com medo e espera eu me acalmar para vir me agradar esperando eu pedir perdão.
Que aliás eu não peço, mas ele perdoa mesmo assim. Eu espero.
Leitor, espero estar sendo claro com você. Eu só consigo te falar isso hoje, porque eu me desvincilhei da cegueira. A cegueira me tentava. Ela é discreta. Ela é calada. Ela é tranquila. Era mais fácil eu aceitar o mundo, a querer o questionar. Mas questionei, não estou mais cego.
Eu acho que espero demais leitor. Espero o sol, espero o aumento para o mês que vem o qual nunca chega, espero a sorte da federal todo mês, espero a chuva, espero a noite... espero, por fim, só a morte.
Ah leitor, eu não saio mais de casa. Não saio com minha mulher. Não viajo com minha família. Eu trabalho, trabalho, trabalho e só trabalho. Não me resta uma nota de dinheiro, não me resta vigor para atividades festivas, entretanto sobra a minha grande capacidade de inventar desculpas.
Hoje não! Um dia talvez. Hoje não vai dar. Hoje não posso. Nunca hoje. Sempre nunca.
Eu deixo tudo para depois mesmo sem saber se o depois vai me esperar também. Mesmo sem saber se no depois, estarei vivo. Mesmo sem saber, se no depois, do depois, do depois, do depois, do não agora, alguém vai estar vivo.
Minha vida se resume em retirar as pétalas da flor de minha vida e esperar para um dia, semana que vem, mês que vem, ano que vem, quando meus filhos crescerem ou quando eu já for velhinho talvez, se der, eu admirar a beleza delas.
Estou ficando muito triste, leitor, com esses devaneios. Eu queria deixar ainda uma lição para vocês que se confortaram na casa que eu arrumei, mas eu não consegui aprender a minha. A tristeza me devolveu a pressa e vejo que já são horas! Não tenho mais tempo para escrever, nem para ler. Por favor, não me responda!!! O resto da minha vida já está cheio de compromissos, não vou ler as respostas. 
Agora estou realmente com pressa, leitor, tenho deveres! Espero que tenha conseguido se virar com meus coloquialismos, paralelismos e erros de pontuação. Espero também que não tenha se incomodado com minha aversão às ênclises. Não estou com tempo de corrigir esse texto imenso que olhando por cima me dá medo de ler. 
Estou indo, leitor, não repare a bagunça que deixei na casa, tem comida na geladeira, volto mais tarde. Se for sair leve as chaves, eu não vou mais entrar nessa casa. Tenha uma boa vida. 
Até um dia talvez!

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Falácia

Me falaram que o mundo não tem mais jeito, que o mundo está perdido, que a palavra não tem mais sentido e que a fé é perda de tempo.
Me falaram que o Brasil não tem mais jeito, que o Brasil está perdido, mas então eu já não entendi nada, porque achei que o Brasil fazia parte do mundo.
No entanto, descobri - porque me falaram - as peculiaridades do nosso país. Ele é diferente. É triste, é ruim, é pobre. Aqui, e só aqui, existe corrupção. E é a pior delas!
Isso foi o que me falaram.
Falaram também que já nem tudo mais são flores na vida. Falam que você precisa estudar para ser alguém na vida. Tenho pena daqueles os quais a escola não fez parte de suas vidas... Não foram ninguém... Pobres coitados!
Me falaram também que coitado vem de coito. E eu não concordei com isso tão facilmente, porém tive que aceitar. Afinal, se falam, deve ser! Por que eu discutiria?
Me falaram que existem 10 motivos para não gostar de amarelo. Portanto, odeio amarelo! Até hoje não sei os motivos, mas, se eles existem, então talvez eu não deva gostar de amarelo mesmo. Amarelo nem deveria ser cor. Não deveria nem "ser". Existem 10 motivos, entende? Dez. Pra mim, dez motivos, são muitos motivos.
Contudo, deixemos esses raciocínios concretos de lado. Não discuta. Não pense, não se desgaste, esqueça. E comece a falar também!
Hoje mesmo, eu acordei e vi aquele nojento com a cara estampada no jornal. A manchete embaixo da foto me intrigou. Li duas linhas da notícia - ignorando pontos e vírgulas -  e saí falando também. Você não pode ficar só ouvindo, tem que sair falando por aí. Desdobrei aquelas duas linhas em longos discursos e, logo, metade dos meus ouvintes esboçavam seu ódio por aquela cara no jornal. Este foi amassado e arremessado no cesto da inutilidade.
De tanto ouvir, estou começando a ficar louco. Há momentos em que as palavras se chocam umas contra as outras. Respiro. Acredito no que falaram por último, visto que o novo é sempre mais atualizado. .................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................
Você concorda, não concorda? Tem que concordar.



terça-feira, 30 de setembro de 2014

Pensa comigo

Penso, logo existo?
Sinto pena de quem pensa demais.
Pensar demais faz mal.
Pare de pensar!
Agora!
Pare!
Agora, pare e pense,
Quantas vezes você viu uma flor hoje?
Não estou falando de passar por uma flor, estou falando de observar.
Tantas árvores pelas ruas e você preocupado com o "tudo", o qual, no final, não é mais nada.
No final nada mais importa, não é mesmo?
Claro que importa, burro! Pense direito.
Ou melhor, não pense, não discuta, engula.
Falando em engulir, como estava seu café hoje?
Como assim normal? Quer dizer que você mede cadê miligrama e cada mililitro de café utilizado no preparo, coloca sempre a mesma quantidade de açúcar e o gosto é sempre o mesmo?
Que vida chata, cara!
Eu sou antes de tudo um hipócrita.
Eu não lembro do gosto do meu café, não olhei as flores hoje, não desejei bom dia ao sol e nem beijei minha mãe antes de sair de casa. Que desgraça...
"NÃO DIGA ESSA PALAVRA, MENINO!" - diria minha mãe.
Me perdoa mãe, mas olha os erros que eu cometo. Tão sutis e infantis... Invisíveis para você também.
Não pense, apenas fale, grite, escreva.
Tire do seu peito o que você está escondendo.
O medo é um desafio a ser vencido.
A sociedade é um desafio a ser desafiado.
O sonho é um desafio a ser conquistado.
O amor é um desafio desregrado.
E a morte é a frustração do desafio.
...
Equilíbrio é a palavra chave.
Por que pensar demais faz mal.
Sentir demais é sentir de menos. É mentir para você mesmo sobre você.
Não adianta olhar para as flores e procurar seu sentimento por elas. Mas também não adianta olhar para suas tarefas e chorar a beleza das flores lá fora.
Esqueça por um minuto que você pensa, apenas exista. Descarte o que o Descartes lhe falou. Sinta. Viva. Mas não se esqueça de terminar os deveres, escovar os dentes e apagar as luzes.
Agora reflita, discorde de mim e fique ofendido pela quantidade de verbos no imperativo que eu usei. Dê seus argumentos. Xingue. Chova. Mas não se esqueça de amar.
O que é o amor afinal?
Não responda, não pense, não delire, apenas sinta. Depois de sentir você pode até pensar em pensar sobre isso.
Pensando bem, vamos ao que não interessa realmente: o ponto final.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Crise

Sim, crise.
O que você tem contra gays?
Não, eu não sou gay.
Homossexual, perdão.
Por mim, deixa eles decidirem o que querem fazer da vida.
Não, eu não sou gay.
Não uso drogas.
Não, não sou contra a descriminalização da maconha, mas também não sou totalmente a favor.
Por mim quem quisesse poderia escolher.
Eu sou um pouco preconceituoso sim.
Com negros também. Mas eu tenho um afeto diferente para com eles, não sei o porquê. É coisa minha.
Acho que temos uma dívida eterna pelo sofrimento de seus antepassados.
Não, não estou falando que todos eram escravos.
Acredito em Deus.
Não, eu não sou louco.
Acredito.
Ciência e religião andam juntos.
Acredito que ainda há esperança para o Brasil.
Isso não tem nada a ver com Deus.
O funk é uma arte assim como todos os outros gêneros musicais.
Odeio gente intolerante, com exceção de meus pais. Esses eu amo incondicionalmente.
Sou muito enjoado e tenho nojo das pessoas e das coisas o tempo todo.
Asco mesmo, de provocar ânsia.
A educação está impregnada em meus valores, porém eu erro várias vezes.
Remorso, eu sinto.
Influências...
Nem tudo é para ser evitado, algumas coisas servem para nós aprendermos a conviver sem termos que mudar nossa personalidade.
Acredito no amor acima de todas as coisas e também acredito no desamor reinando e imperando, julgando e destruindo o amor.
Posso explicar?
Obrigado. O desamor é mais conhecido como relação de interesses.
Segundo um cara por mim conhecido como meu pai, as relações são superficiais. Você só quer alguém porque sente carência de afeto. Você só é amigo de alguem porque consegue algo em troca dessa pessoa. Você só se aproxima de alguem querendo algo dessa pessoa em troca. Nenhuma relação é feita sem algum motivo por trás.
Concordo em parte, eu acho que para toda regra há algumas exceções.
Inconscientemente fazemos isso...
As exceções!!!
Abrir a cabeça é como sonhar com a realidade, sem precisar preocupar-se com o real.
Já dizia o grande filósofo, teólogo e compositor, Mister Catra:
"Foda-se essa merda, vamos transar."
Sexo que aliás parece perder o sentido e o prazer hoje em dia.
Sexo, drogas, aborto, essas palavras te ofendem?
Libera essa porra logo! Deixa o povo escolher.
Escola? Eu amo escola.
Vai toma no cu quem não gosta.
Eu sou antes de tudo um hipócrita.
Quer saber? Vamos todo mundo tomar no cu juntos.

sábado, 13 de abril de 2013

A Chuva


Chove, mas não chove. Os pingos caem levemente no jardim de inverno, amargo e triste. Não, não chove, eu estou delirando. Riscos cortam o céu, mas não chegam ao chão.
 - Deixe-me respirar.
 - Deixo. – respondeu.
Foi o único diálogo dessa manhã fria. Meus olhos cálidos latejam de medo. Mas eu não sinto medo. Logo mais, o clima não mudou, mas pelo relógio vejo que o menor ponteiro já havia cruzado a ponto o qual indicava o número doze.
 - Pode ser na terça?
 - Não pode ser hoje? – indaguei com os olhos baixos. Não estou desolado, muito menos triste. Somente, confuso.
A chuva cessou. A voz que gemia, arguia e retorquia palavras ininteligíveis parou por um instante. Ela não entende o que arde dentro de mim. Eu quero ser, mas ao mesmo tempo não o quero.
O barulho do relógio ecoa pela sala como os gritos que uma pessoa com sentimentos entoaria neste momento. Mas, não há barulho de relógio, ele é digital. Os únicos sons por mim ouvidos vêm das gotas que caem lá fora, além de minha grande janela a qual se faz de parede que me assombra em todas as noites escuras.
Pingo. Pingo. Gota. Gota... Enxurrada. Mas não chove.
 - Queres conhecê-la logo então?
 - Posso?
Sim, chove sim. Minha janela era na verdade um vitral e reparei nisso só agora. Minha sala é tão grande. Sou um abastado ingrato. Ou um abestado grato? Enquanto isso, a voz ria em demasia de minhas respostas.
 - Estás me desafiando?
 - Claro que não, o respeito e amo tanto quanto amo os seres humanos.
 - Comparas-me com um ser humano qualquer?
 - Por que não? Alguns facilitam a sua tarefa.
 - O tempo está terrível, não?
 - Não sei, está?
Então está chovendo? Talvez um dia essa água que penetra a terra molhe meu caixão e o estrague, corroendo a madeira e me deixando desprotegido. Quero ser cremado depois de morto. Para quem eu falo isso?
 - Que tipo de pessoa és tu? – perguntou-me.
 - Não o desafio, caro... Como lhe chamam mesmo? Enfim, não o desafio, apenas tenho curiosidade demais e medo algum.
 - Temes. Mas não temes.
 - Temer ou não temer?
 - Temas sempre, pois se desconheces outras terras, terás que por lá ser precavido.
 - Temo então.
Temes... Temer... Temas... Temo... Não tenho medo na verdade, mas aproveitarei a voluptuosidade desse momento para não abrir mais questões. Quero chegar ao fim disso logo. Já não é a curiosidade que me faz continuar essa discussão, é a vontade.
Sou estranho. Provavelmente não tenho sentimentos. Mas não sou estranho, então. Psicopatas não têm sentimentos. Mas eu não sou psicopata.
 - Você sempre discute com as pessoas sobre isso?
 - Pessoas nunca teriam solicitado a realização de minha tarefa.
 - Pois não faça então.
 - És um excêntrico. Procurar-te-ei outro dia, caro subordinado. Espero que não estejas pronto.
 - Morrer seria a minha maior aventura, nunca deixarei de estar pronto para tal. Se você não permitir isso, viverei para sempre.
Foi-se a voz... Acordei subitamente com os lençóis ao chão e os armários caídos. A adaga suja de sangue em uma de minhas mãos assustou-me. Chove agora. Sento-me ao pé da cama a olhar pela janela. Tem medo de mim a morte? As gotas chocam-se contra o vidro e descem lentamente até morrer no parapeito. Morrer no parapeito?
Entendi. Meu vitral não era um vitral, era uma janela. Foi um distúrbio meu? Estou morto? É isso?
Dói muito meu pescoço. Não, não pode ser isso a morte.
Não chove lá fora.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Como pode a água morrer enquanto na terra nascem flores?



Caminhando vou
Preso nesse balanço
E nesse baile danço
Temendo perder
-
Perder a razão
Querendo ou não
Eles voltar-se-ão
A se compreender?
-
Terá mesmo força
O tal do perdão?
Ou poderá ele
Dar-se por esquecer?
-
Uma nova era
Já se aproxima
E depois do clímax
Terá um amanhecer?
-
Esteja o violão
Chorando ou não
A força da minha voz
Irá prevalecer?
-
Como pode a água morrer
Enquanto na terra nascem flores?
-
De que me serve braços perdidos
Se com dois unidos
Eu fui nascer?
É a vida ou a morte
A separação de entes queridos?
-
Como pode a água morrer
Enquanto na terra nascem flores?

É proibido ser diferente!? - Crônica

 - Bom dia, haha! Ai, ai, como está difícil de ganhar o time do Brasil, hein - disse o velho senhor que a mim se dirigia.
Um gesto tão simples e fulgaz quanto o sorriso escarlate de resposta. Gestos simples... algo que só idosos fazem com tamanha espontaneidade. Adultos são monótonos, entediados, deprimidos. Sentado no banco do ônibus público, vejo todos passarem tristes e apressados. Lei deles serem assim?
 - Filho, fique quieto! Não quer apanhar na frente de todos aqui, não é?
Chantagem, uma das maiores imoralidades do homem. O pai o repreende gesticulando e volta a ler seu periódico. O filho enruga toda a face, cruza os braços e fita a janela sem a ver. Será que a função do pai é ensinar o filho a ser chato como todos os outros adultos?
 - E se chorar vai sofrer com as consequências em casa!
Ameaça-o novamente levantando e abaixando o indicador. Será que os pais sabem os valores que passam - se é que passam! - fazendo gestos como esses? Eu, em minha liberdade de adolescente, indo para o colégio neste ônibus, cada vez mais me deparo com situações simples que me permitem filosofar tanto nesta pobre crônica.
O pai suspira impaciente, verifica as horas em seu relógio, bufa e movimenta o calcanhar, enquanto reclama ao vento seu atraso.
Será normal para ele ser assim? Adultos, movam-se, sejam diferentes. Pulem, gritem, festejem o nada! Não é ridículo ser diferente. Ridículo é ser igual.